MÍSTICA, TRADIÇÃO E ESPÍRITO ACADÉMICO “Não acabem com esta tradição. A UTAD tem a mística e o ambiente académicoque tem em boa medida graças à praxe. É uma coisa muito bonita quando é feita com regras, quando é para integrar e brincar com os novos alunos. Também rastejei na lama e achei isso uma brincadeira”.
Bruno Gonçalves, presidente da Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, in Público, 02/02/2006
Os dirigentes associativos utilizam muito expressões como “mística”, “espírito académico”, “união” ou “integração”, entre outras, para procurar dar sentido às práticas vulgarmente conhecidas como “praxes”.
Claro que tratando-se de pessoas que estão na universidade há sete ou oito anos, sem fazer mais nada que não seja abnegadamente sacrificar-se pelo bem comum (ao serviço da associação académica, claro está), este “espírito académico” será mais um estilo de vida que propriamente um estado de alma.
Sejamos sinceros: a praxe não é a única forma de “integrar” os novos alunos, nem tão pouco a melhor ou mais eficaz. A praxe académica existe apenas por uma única razão, que qualquer “doutor” ou “engenheiro” conhece, ainda que não o queira admitir: reproduzir e perpetuar as relações de poder no interior da comunidade universitária, garantindo aos alunos mais velhos a influência e o sentimento de poder necessários à satisfação dos respectivos egos. Tudo o resto – o blábláblá da integração e da tradição - não passa de “tretas”. Haja coragem e frontalidade para admitir isto, ao invés de se continuar a invocar figuras mitológicas para defender o indefensável. A praxe não é uma verdadeira tradição e, mesmo que fosse, continuaria a não se justificar, pois estas não se sobrepõem aos direitos humanos. E felizmente, muitas das “tradições” dos últimos milhares de anos foram abolidas com a evolução dos tempos.
No início do século XX, oficiais da Royal Navy britânica tentaram impedir uma determinada medida do então ministro da Marinha, Winston Churchill, aludindo à “tradição naval”. Churchill, que tinha profundo respeito pela Royal Navy, ter-lhes-á respondido algo parecido com isto: “Don't talk to me about naval tradition. It's nothing but rum, sodomy and the lash”. Com as “tradições” universitárias passa-se mais ou menos o mesmo, com a evidente diferença que a tradição naval será mais antiga (deixo a parte da sodomia ao critério do leitor…).
Afinal, o que são as “tradições académicas” que os nossos dirigentes associativos tanto defendem? A meu ver, nada mais que boçalidade, palavrões, humilhações, álcool a rodos, brincadeiras de mau gosto, alarvidade e “caça” aos(às) caloiros(as). Ora a universidade devia servir para elevar as pessoas e não para as rebaixar ou bestializar. O ensino superior deveria existir para formar indivíduos de espírito livre, sentido crítico e firmes virtudes cívicas. Mas a praxe, nos seus moldes actuais, destrói tudo isso: ensina apenas a obedecer cegamente e a ser rude e mal-educado como os senhores doutores e engenheiros. Ensina o mau gosto, a boçalidade e a mediocridade. É para isso que servem as universidades?
Se os dirigentes associativos – associações académicas, conselhos de veteranos, etc - querem de facto preservar esta “tradição”, só têm um caminho a seguir: tornar a praxe apenas um de entre vários modelos de “integração”, coexistindo com outros. A praxe só poderá subsistir, a médio e longo prazo, se deixar de ser obrigatória... porque o é, de facto, embora o discurso oficial afirme o contrário. Todos sabemos que muitos miúdos de 17 ou 18 anos não têm a coragem necessária para dizer “não” às praxes, porque conhecem o triste destino dos vulgarmente conhecidos por “anti-praxe”. É até desonesto do ponto de vista intelectual afirmar que só é “praxado” quem quer.
Se apenas forem “praxados” aqueles que realmente encaram a praxe como uma brincadeira, todos os problemas que têm surgido deixariam de existir. E provavelmente o interesse dos novos alunos na praxe até seria superior.
Que os nossos dirigentes ponham os olhos em certos países civilizados em que os novos alunos podem optar por mil e uma actividades culturais, lúdicas e sociais.
Se os dirigentes continuarem a perpetuar o actual estado de coisas, a praxe será abolida mais tarde ou mais cedo. É apenas uma questão de tempo até isso acontecer, tal como sucedeu no resto da Europa.
Salve-se a praxe, mudando-lhe a forma e as atitudes.
(Texto publicado no Comum Online.)
Bruno Gonçalves, presidente da Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, in Público, 02/02/2006
Os dirigentes associativos utilizam muito expressões como “mística”, “espírito académico”, “união” ou “integração”, entre outras, para procurar dar sentido às práticas vulgarmente conhecidas como “praxes”.
Claro que tratando-se de pessoas que estão na universidade há sete ou oito anos, sem fazer mais nada que não seja abnegadamente sacrificar-se pelo bem comum (ao serviço da associação académica, claro está), este “espírito académico” será mais um estilo de vida que propriamente um estado de alma.
Sejamos sinceros: a praxe não é a única forma de “integrar” os novos alunos, nem tão pouco a melhor ou mais eficaz. A praxe académica existe apenas por uma única razão, que qualquer “doutor” ou “engenheiro” conhece, ainda que não o queira admitir: reproduzir e perpetuar as relações de poder no interior da comunidade universitária, garantindo aos alunos mais velhos a influência e o sentimento de poder necessários à satisfação dos respectivos egos. Tudo o resto – o blábláblá da integração e da tradição - não passa de “tretas”. Haja coragem e frontalidade para admitir isto, ao invés de se continuar a invocar figuras mitológicas para defender o indefensável. A praxe não é uma verdadeira tradição e, mesmo que fosse, continuaria a não se justificar, pois estas não se sobrepõem aos direitos humanos. E felizmente, muitas das “tradições” dos últimos milhares de anos foram abolidas com a evolução dos tempos.
No início do século XX, oficiais da Royal Navy britânica tentaram impedir uma determinada medida do então ministro da Marinha, Winston Churchill, aludindo à “tradição naval”. Churchill, que tinha profundo respeito pela Royal Navy, ter-lhes-á respondido algo parecido com isto: “Don't talk to me about naval tradition. It's nothing but rum, sodomy and the lash”. Com as “tradições” universitárias passa-se mais ou menos o mesmo, com a evidente diferença que a tradição naval será mais antiga (deixo a parte da sodomia ao critério do leitor…).
Afinal, o que são as “tradições académicas” que os nossos dirigentes associativos tanto defendem? A meu ver, nada mais que boçalidade, palavrões, humilhações, álcool a rodos, brincadeiras de mau gosto, alarvidade e “caça” aos(às) caloiros(as). Ora a universidade devia servir para elevar as pessoas e não para as rebaixar ou bestializar. O ensino superior deveria existir para formar indivíduos de espírito livre, sentido crítico e firmes virtudes cívicas. Mas a praxe, nos seus moldes actuais, destrói tudo isso: ensina apenas a obedecer cegamente e a ser rude e mal-educado como os senhores doutores e engenheiros. Ensina o mau gosto, a boçalidade e a mediocridade. É para isso que servem as universidades?
Se os dirigentes associativos – associações académicas, conselhos de veteranos, etc - querem de facto preservar esta “tradição”, só têm um caminho a seguir: tornar a praxe apenas um de entre vários modelos de “integração”, coexistindo com outros. A praxe só poderá subsistir, a médio e longo prazo, se deixar de ser obrigatória... porque o é, de facto, embora o discurso oficial afirme o contrário. Todos sabemos que muitos miúdos de 17 ou 18 anos não têm a coragem necessária para dizer “não” às praxes, porque conhecem o triste destino dos vulgarmente conhecidos por “anti-praxe”. É até desonesto do ponto de vista intelectual afirmar que só é “praxado” quem quer.
Se apenas forem “praxados” aqueles que realmente encaram a praxe como uma brincadeira, todos os problemas que têm surgido deixariam de existir. E provavelmente o interesse dos novos alunos na praxe até seria superior.
Que os nossos dirigentes ponham os olhos em certos países civilizados em que os novos alunos podem optar por mil e uma actividades culturais, lúdicas e sociais.
Se os dirigentes continuarem a perpetuar o actual estado de coisas, a praxe será abolida mais tarde ou mais cedo. É apenas uma questão de tempo até isso acontecer, tal como sucedeu no resto da Europa.
Salve-se a praxe, mudando-lhe a forma e as atitudes.
(Texto publicado no Comum Online.)
2 Comments:
Agora quem n devia falar era voce, pk de certeza absuluta q n viveu nenhum momento de praxe, n faz a minima ideia do q e, e vem pra aqui falar do q n conhece.
Eu entrei este ano 2006, e posso dizer q e pela praxe q conheço TDS MAS TDS as pessoas dentro do instituto, sim a praxe e dura, mas ha q saber o k ela transmite, RESPEITO, TOLERANCIA, FORCA, ESPIRITO DE EQUIPA, DETERMINAÇAO.
Referente aos Drs, posso dizer q eles sao duros, mas serios( Falo pela minha faculdade), pessoas q podem ser duras, mas qd for preciso EU SEI K ELES LA ESTARAM PRA ME DAR A MÃO.
E por um lado, a praxe e brincadeira, mas tb ensinamento, pra kem nc la esteve, n e nd, e seria ESTUPIDO alguem q ou n sabe o k akilo é e se la andou, n percebeu nd e é mais burro do que qlq outra pessoa q ande la, ou nc la esteve e n devia falar do k n conhece, assim como eu n falo de Fisica ou quimica.
Fica aki o meu comentario, pena ter perdido tempo a ler um artigo tao estupido e por consequencia a rsp, pra ver se ilucido alguma coisa.
e q fique aki bem claro k n estou a dizer q a praxe e sp bem feita, mas qd e, tem sentido, por isso cale-s!
By Anónimo, at terça-feira, outubro 31, 2006 3:58:00 da tarde
1. Fui praxado e sei perfeitamente o que é a praxe.
2. Não aceito lições de pirralhos recém chegados à universidade, ainda para mais que, como é o caso, nem escrever sabem, nem tão pouco possuem a coragem de assinar o que escrevem.
3. Este seu comentário só dá razão ao meu artigo. Você é claramente um subproduto da praxe, a quem o epíteto de "besta" - orgulhosamente ostentado, segundo creio - assenta que nem uma luva.
4. Deixo-lhe um conselho: não diga mais nada, que só se enterra mais.
By Gabriel Peregrino, at terça-feira, outubro 31, 2006 4:27:00 da tarde
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