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quinta-feira, janeiro 12, 2006

O MAU DA FITA É uma maldição. Sempre que parece iminente uma resolução para o conflito israelo-árabe, eis que o inesperado acontece, trocando as voltas a tudo e todos. Primeiro foi Rabin, velho general assassinado devido à coragem de fazer a paz. Agora é Sharon, outro velho general que ousou fazer o que devia ser feito, que jaz no leito de um hospital, às portas da morte. E temo que junto dele, ligado às máquinas do hospital Hadassah, esteja também o processo de paz.

Quando Sharon ordenou a retirada de Gaza e afrontou sem medo os “ultras” do campo israelita, a intelectualidade europeia ficou sem saber o que dizer. Não era Sharon o mau da fita, afinal?

Além do brilhante passado militar, Sharon e Rabin partilhavam características como o patriotismo e o pragmatismo. Para defender Israel, Sharon combateu de forma destemida em todas as guerras travadas desde 1948. Com o mesmo objectivo, construiu colonatos nos territórios conquistados e eliminou fisicamente indivíduos como o xeque Yassin – que a par de Arafat, era outro criminoso admirado, desculpado e “compreendido” pelos intelectuais europeus. E embora todos os muros erguidos sejam trágicos e lamentáveis, o que Sharon construiu pôs termo à vaga de atentados terroristas em cafés, restaurantes e autocarros israelitas.

Sendo um estratega lúcido, Sharon ordenou o desmantelamento de grande parte dos colonatos e a retirada da faixa de Gaza. Por tudo isto, penso que o general era muito mais merecedor do Prémio Nobel da Paz do que Arafat, que não passava de um terrorista que tinha como único objectivo perpetuar o seu poder sobre o povo palestiniano. De facto, Arafat foi sempre um obstáculo à paz, devido à sua intransigência, aos métodos terroristas que utilizava e à tirania a que submeteu os palestinianos. O velho guerreiro que muitos europeus românticos ainda hoje admiram era um indivíduo psicótico e sem escrúpulos, que se agarrou ao poder durante 50 anos e que impediu o surgimento de interlocutores credíveis no campo palestiniano. Em vez de parte da solução, Arafat era um obstáculo à mesma.

Muitos daqueles que acusam Sharon de ter permitido os massacres de refugiados no Líbano, em 1982, são os mesmos que fecham os olhos e “compreendem” os crimes cometidos por Arafat. Se é verdade que Sharon permitiu que as milícias libanesas cristãs massacrassem refugiados palestinianos, também o é que Arafat assassinou deliberadamente centenas (ou milhares?) de civis israelitas. Um permitiu que matassem, outro assassinou deliberadamente.

Para resolver um problema como o conflito israelo-árabe será necessária uma vontade de ferro, a par de muita coragem, lucidez e ousadia. E gostemos ou não da personagem, Sharon tinha essas qualidades. (Artigo publicado no Comum Online)