respublica

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

DESNECESSÁRIO Evidentemente que a liberdade de expressão é um direito inviolável. Mas os jornais europeus não precisavam de assumir a atitude de desafio que adoptaram nos últimos dias. A pretexto da "solidariedade" - ou orgulho? - com os jornais dinamarqueses, orgãos de todo o continente reproduziram nas suas páginas as polémicas caricaturas de Maomé. Foi um gesto absolutamente inútil, que serviu apenas para alimentar o ódio.

Se tivessem deixado esquecer o assunto, o episódio já teria passado à História. Mas não, os europeus sempre-ávidos-em-dar-lições-de-moral tinham de deitar lenha na fogueira. Estão no seu direito, claro. Mas ofendem desnecessariamente mil milhões de muçulmanos (digo desnecessariamente porque não é com provocações que vão convencer os muçulmanos a mudar de ideias sobre o assunto). É um pouco como se lhes dissessem: "temos muito respeito por vós, mas o vosso pai é uma besta", ou "temos muito respeito por vocês, mas as vossas crenças são uma porcaria". Em resumo, nos últimos três dias a imprensa europeia fez mais em prol da fractura civilizacional que a política externa dos EUA nos últimos três anos. Esta, pelo menos, rege-se por objectivos mais ou menos necessários e concretizáveis. As guerras terminam mais tarde ou mais cedo, e as suas cicatrizes acabam por sarar. Mas o ódio civilizacional e religioso sobrevive durante gerações.

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P.S.: seriam os jornais europeus tão "solidários" se os referidos cartoons fossem de natureza racista ou homofóbica?