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quarta-feira, junho 15, 2005

CONTO: "O capricho de César" (VI)

Entretanto, um homem franzino subiu ao palco, interrompendo o espectáculo. Devia tratar-se de um liberto de Ausonius, pensou Caius. O liberto colocou-se entre os dois actores, com os braços erguidos, como se ao mesmo tempo que pedia desculpa ao público pela interrupção, pedisse também que se fizesse silêncio.

Demorou alguns segundos até que o liberto, meio assustado, conseguisse captar a atenção dos espectadores. E quando finalmente se impôs algum silêncio, o homem levantou a voz e disse:

- Quirites (1)! Temos entre nós o mais ilustre dos visitantes! Caio César, Cônsul, Imperador e Pai da Pátria, fez questão de partilhar dos vossos divertimentos!

Neste momento, Calígula emprestou à face uma expressão de certa bonomia, levantou-se da cadeira e saudou a multidão, com o braço direito levantado. Entre os espectadores, por seu turno, houve quem se erguesse e gritasse a plenos pulmões:

- Viva o nosso néné! Viva o nosso chorão(2)! Viva o filho de Germânico!

(Continua)

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(1) - Cidadãos.

(2) - "Néné" e "Chorão" eram algumas expressões utilizadas pela plebe romana para designar carinhosamente o jovem imperador.