respublica

terça-feira, outubro 26, 2004

DOGMAS (III) O caso Buttiglione continua a dar que falar. Os eurodeputados de esquerda recusam-se a aceitar a sua nomeação, enquanto Barroso se recusa a mudar de ideias. Aliás, se o fizesse começaria o seu mandato com um inegável sinal de fraqueza.

Julgo que temos de ter em conta o cerne do problema: conseguirá Buttiglione desempenhar correctamente as suas funções de Comissário Europeu? Pessoalmente, creio que sim, uma vez que ele já garantiu que lutará contra qualquer forma de discriminação. Mas conseguirá Buttiglione desempenhar as suas funções de acordo com os desejos da esquerda do Parlamento Europeu? Creio que não. Seria como pedir ao Bloco de Esquerda para apoiar a permanência de Paulo Portas no nosso governo.

Penso que se a Comissão Barroso for aceite pelo Parlamento Europeu (PE), ainda que por escassos votos, a principal consequência poderá ser uma eventual “politização” da Comissão. Fenómeno esse que, em meu entender, seria bastante positivo para o processo de construção europeia; como federalista, penso que as comissões devem cada vez mais assemelhar-se a um governo europeu.

Por outro lado, creio que este episódio chamou novamente a atenção para a ditadura do “politicamente correcto”, que ameaça cada vez mais a nossa liberdade de opinião e de expressão. Nesta Europa democrática em que vivemos, todos têm direito a pensar e a dizer o que bem entenderem: opiniões tão díspares como as de Rocco Buttiglione, Francisco Louçã, Álvaro Cunhal e Jean Marie Le Pen, podem e devem manifestar-se livremente, e sem que aquele que as emita seja de alguma forma perseguido ou censurado.

P.S.: agradeço e retribuo inteiramente ao Timshel as simpáticas palavras que me dirigiu, e recomendo a leitura do post que escreveu sobre este mesmo assunto.