respublica

segunda-feira, julho 19, 2004

"MOURAS ENCANTADAS" (II) Consultei a minha fonte de informação sobre a lenda familiar de que falei no post anterior (ou seja, o meu pai), fonte essa que corrigiu a minha versão da história. Segundo o meu pai, o referido antepassado era tio da minha bisavó, irmão da sua mãe, e não tio-avô, como eu escrevi anteriormente. Chamavam-lhe Antoninho, e era conhecido pelos seus dotes de vidente. Viveu na primeira metade do século XIX e faleceu bastante novo, ainda solteiro e sem filhos. De acordo com o meu pai, a história que atrás referi passou-se da seguinte forma:

Antoninho caminhava pela floresta quando avistou, numa pedreira abandonada situada entre o arvoredo, uma belíssima mulher. A rapariga escovava os longos cabelos negros, quando sentiu Antoninho aproximar-se. Disse-lhe então: "Não tenhas medo, Antoninho, aproxima-te". Ele, siderado com a beleza da rapariga, deu alguns passos na sua direcção. Foi então que se deu conta de que, da cintura para baixo, a mulher tinha corpo de serpente. O pânico tornou-se visível na sua face, e o misterioso ser voltou a interpelá-lo: "Beija-me, Antoninho, porque estou aqui presa há dois mil anos e só um beijo me poderá libertar". Antoninho assustou-se ainda mais e recuou. Ela voltou a suplicar: "Beija-me, senão vou ficar aqui encantada por mais dois mil anos!" Receoso de perder a alma para o Tentador, Antoninho virou costas à Moura e fugiu o mais depressa que pôde. Uma terrível lamentação, que seria a choro da Moura, fez-se então ouvir em toda a floresta, e Antoninho nunca mais voltou aquele local.