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terça-feira, fevereiro 14, 2006

MIOPIA "O maior agressor temos sido nós. Para já não falar das Cruzadas, que vão longe mas que estão presentes como alguma coisa que se passou anteontem, para já não falar na colonização de África e de vários povos islâmicos e asiáticos, para já não falar da política de canhoneira seguida pela Inglaterra em relação a esses países, veja o que foi a estratégia seguida pela maior potência mundial no mundo árabe neste momento." (Freitas do Amaral, MNE, em declarações à RTP)

Sempre achei curiosa esta mania de recordar as Cruzadas por tudo e por nada. Ora quem se dá ao trabalho de andar para trás no tempo oito séculos podia também retroceder doze ou quinze, até à época da conquista árabe da Síria, Egipto, Anatólia , Magrebe e Hispânia (que eram então o coração da Cristandade). Conquista essa que, tal como as Cruzadas, teve motivações religiosas, políticas e económicas. E já agora, porque não recordar também as ofensivas otomanas dos séculos XIV a XVIII, bem como os "raides" de pirataria com que os beis de Tunes e Argel brindaram as costas e a navegação europeias até ao início do século XIX (e foram muitos os portugueses que terminaram os seus dias no cativeiro norte-africano...). Ou o saque de Roma pelos sarracenos, no século IX? E as atrocidades cometidas por Almançor no Norte de Portugal?

Quando se vê a História em função de ideologias, como faz o nosso MNE, corre-se o risco de esquecer parte dela.

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P.S.: Freitas do Amaral sugeriu um campeonato de futebol euro-árabe. Mas o que aconteceria se os vencêssemos, sr. Ministro? Pedíamos desculpa?