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segunda-feira, outubro 31, 2005

PARADOXOS Nos últimos meses, tenho vivido numa residência universitária em Lisboa. Ora isso tem me permitido conviver com pessoas de todas as proveniências, religiões e culturas, o que é bastante positivo e enriquecedor.

Entre os muitos estrangeiros que habitam na mesma residência que eu - os portugueses são menos de 10 por cento dos residentes -, contam-se vários turcos, curdos e azeris, que se encontram em Portugal a fazer estudos de mestrado e doutoramento. Na sua maioria, são pessoas afáveis, cultas, educadas e inteligentes, com quem dá gosto conversar. Mas todos partilham de um visão do mundo completamente diferente da nossa o que, embora seja natural, torna-se preocupante em determinados assuntos.

Em primeiro lugar, nutrem um ódio visceral a Israel e, claro, à América (nisto, o que os distingue de muitos ocidentais que partilham destes sentimentos é o facto de não procurarem disfarçar o anti-semitismo). Em segundo lugar, desprezam a cultura ocidental, que consideram decadente e corrupta. Ficam chocados com a liberdade que as mulheres gozam na nossa sociedade, não suportando o facto de as conterrâneas que estudam em Portugal terem aqui liberdades de que no país de origem nem em sonhos disfrutariam. Por exemplo, alguns deles irritam-se sobremaneira pelo simples facto de verem uma jovem compatriota ousar dirigir a palavra a um rapaz europeu, ou andar sozinha na rua após certas horas.

Claro que este desprezo pelo modo de vida ocidental não os impede de virem para cá estudar e de sonharem com carreiras profissionais na Europa e nos EUA. Da mesma forma que muitos críticos do capitalismo aproveitam ao máximo as benesses permitidas pela economia de mercado. Paradoxos...

O ódio a Israel chega a roçar o absurdo; como não se interessam pelos media ocidentais - os quais, apesar de nem sempre primarem pelo rigor e isenção, conseguem ser mais independentes que os de países como o Irão, Azerbeijão ou mesmo a Turquia -, dão ouvidos a todas as teorias da conspiração e anti-semitas que os orgãos de comunicação islâmicos difundem. Por exemplo, acreditam piamente na história - cuja falsidade foi já comprovada - segundo a qual o 11 de Setembro foi obra da Mossad, e que milhares de judeus abandonaram as Torres Gémeas momentos antes dos ataques. Acreditam nestas e outras histórias, embora eles próprios não sejam radicais ou aquilo que definiríamos como fundamentalistas religiosos.

O facto de estes jovens "moderados", cultos e com formação superior serem tão vulneráveis a este tipo de boatos e a todo o topo de "mitos" e teorias da conspiração anti-semitas - próprias de um islão na defensiva e radicalizado -, mostra-nos como é urgente vencer a batalha das ideias. E isso só se conseguirá se o Ocidente conseguir promover a democracia, a liberdade e o progresso económico naqueles países.

O anti-semitismo no Médio Oriente não se deve exclusivamente a certos abusos cometidos por Israel nos territórios ocupados. Deve-se sim, em grande parte, à promoção do ódio a Israel pelos regimes ditatoriais da região, os quais precisam de um inimigo externo para desviar as atenções da situação catastrófica em que vivem os seus povos. A pobreza da Síria, do Irão, do Egipto e da Jordânia não é culpa de Israel. Do mesmo modo que - facto "esquecido" pela comunicação social em geral -, todas as guerras entre árabes e israelitas que se travaram desde 1948 foram desencadeadas pelos segundos. Mas disto, claro, já ninguém se recorda.

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P.S.: Agora imaginemos que o primeiro-ministro de Israel afirmava publicamente que a Síria tinha de ser "apagada do mapa". Qual seria a reacção dos guardiões do políticamente correcto e dos porta-vozes da esquerda "moderna" (eufemismo para "radical")?