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sexta-feira, abril 22, 2005

ESPÍRITO DOS TEMPOS Recomendo a leitura deste excelente post do Luciano Amaral, no Acidental, sobre a eleição de Josef Ratzinger. De facto, muita gente se esquece que o Cristianismo sempre foi uma religião de ruptura, e como tal contra o apregoado "espírito dos tempos".

A chamada "crise" da Igreja dura pelo menos desde a Páscoa (judaica) do ano 33 da nossa era, quando um obscuro carpinteiro galileu, líder de uma misteriosa seita que perturbara a pax romana, foi crucificado em Jerusálem. No tempo de Pilatos, Nero, Domiciano e Diocleciano, o Cristianismo era contra o "espírito do tempo", então como agora impregnado de luxúria e hedonismo. Depois, quando se uniu ao poder imperial, passou a ser contra o barbarismo que ameaçava a Europa. E quando Roma caíu sob a espada de hunos e germanos, procurou minimizar as desgraças de uma era de trevas. Salvou o que restava da cultura greco-romana e procurou impôr a paz de Deus (períodos em que os senhores feudais estavam proibidos de se guerrearem e de atacar camponeses e mercadores). Teve o seu lado negro, como a Inquisição, as guerras de religião e a promiscuidade com o poder político, é certo, mas mesmo nesses tristes tempos o Cristianismo se afirmou como um ideal de pureza, honestidade e de exigência. E creio que para cada Torquemada - e estes existem em todas as crenças religiosas, "não-crenças" e ideologias -, surgiu um João de Deus ou um Francisco de Assis.

Em todas estas épocas, de Jesus a Santo Agostinho, de Santo Ambrósio a São Tomás de Aquino, e de São Francismo de Assis a João Paulo II, falou-se sempre de crise da Igreja e da sua derrocada iminente. O naufrágio da barca de Pedro, a mais antiga instituição do mundo, sempre esteve por um fio.

Além disso, o "espírito dos tempos" e o políticamente correcto foram outrora o anti-semitismo, o sistema inquisitorial, o absolutismo monárquico, o mercantilismo, o Terror jacobino, o marxismo-leninismo, o anarquismo...