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quarta-feira, abril 20, 2005



BENTO XVI Ao contrário do que dizem muitos comentadores, a eleição de Ratzinger não significa o advento de uma igreja ultra-conservadora. Ratzinger não é mais ultramontano que o falecido João Paulo II. Limitar-se-á a manter o rumo conservador que este último seguiu durante 26 anos e cinco meses. E coloquemo-nos a questão: quantos homens na casa dos 70/80 anos concordam com a ordenação de mulheres, o aborto, o divórcio ou o casamento gay?

Ratzinger era um seguidor do papa polaco, e não um mentor. Assim sendo, as suas posições "politicamente incorrectas" não diferem em muito das do seu antecessor no trono de São Pedro. A diferença, porém, reside no facto de Bento XVI não ter nem um terço do carisma que João Paulo II possuía.

O mundo "perdoava" ao velho pontífice a sua aversão pelo relativismo moral e pelo hedonismo dominante. Curiosamente, João Paulo II sabia lidar de forma brilhante com os mesmos media que propagavam as ideias e estilos de vida que ele tanto combatia. Sendo um gigante do ponto de vista espiritual e político, era ao mesmo tempo um excelente comunicador e um astuto estadista. Assim sendo, raramente tinha bad press, e mesmo os que dele discordavam lhe reconheciam as qualidades. Era esse o "segredo" de Karol Woytila.

Não me parece que o mundo encare da mesma forma a postura e as ideias do novo Papa. Há duas décadas que Ratzinger tem bad press. Resta saber se, enquanto Papa, conseguirá revestir-se de um novo elan.

Não era este o Papa que desejava para a Igreja. Precisávamos de alguém mais jovem e dinâmico. Com Ratzinger no trono papal teremos mais alguns anos de woytilismo agonizante, mas desta feita sem a formidável personagem que lhe esteve na origem.

Temos, no entanto, de dar ao novo Papa o benefício da dúvida. Talvez ainda venha a ser uma agradável surpresa.