respublica

quarta-feira, dezembro 22, 2004

BOAS INTENÇÕES Independentemente da veracidade das acusações - até que se prove em Tribunal o contrário, as pessoas visadas são inocentes -, as recentes denúncias de abusos sexuais e de irregularidades contabilísticas na Obra do Ardina mostram-nos como este tipo de instituições são vulneráveis a três grandes "perigos":

Em primeiro lugar, à calúnia e à difamação das pessoas dos seus dirigentes, por se tratar de organizações muito "fechadas", onde se torna relativamente fácil lançar suspeitas sobre algo ou alguém, por mais infundadas e injustas que sejam.

Em segundo lugar, e por se tratarem de estruturas quase "familiares", muitas vezes não existe uma nítida distinção entre o que pertence à instituição e aquilo que pertence aos seus dirigentes. Por exemplo, pode suceder que o presidente pague hoje do seu bolso uma determinada despesa da instituição, e que amanhã seja esta a pagar algo ao presidente. Obviamente, estas "familiaridades" e "relaxamentos" acabam por prejudicar as instituições. Por mais voluntarismo e boas intenções que existam, o ideal será respeitar sempre as leis e os procedimentos contabilísticos adequados.

Por último, é certo e sabido que "a ocasião faz o ladrão". Os abusos sexuais e os maus tratos ocorrem nesse tipo de instituições porque as vítimas são pessoas indefesas e desamparadas, a quem a sociedade não protege devidamente. Porque é que o lobo ataca as ovelhas? Porque o rebanho se encontra indefeso.

Por tudo isto, concordo com a Gabriela: estes lares e internatos devem ser encarados como a última opção e um "mal menor", e nunca como "a" solução adequada para os problemas das crianças.

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P.S.: sempre desconfiei da extrema generosidade, entrega e dedicação demonstradas por algumas pessoas. Fico com a impressão que alguns desses beneméritos, ao praticarem nobres e louváveis acções, fazem-no mais por interesse próprio que por amor aos desamparados que auxiliam. Não sou psicólogo, mas parece-me que fazer o bem aos outros - ou aparentar isso - poderá ser uma forma de alimentar o próprio ego e de se procurar "redimir" de alguma culpa inconsciente. Por vezes, fico com a ideia de que os responsáveis por algumas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) ou Organizações Não Governamentais (ONG) precisam mais de ajuda que as pessoas que dizem auxiliar.

Nada tenho contra quem procura um sentido para a sua própria vida, entregando-se a causas nobres (muito antes pelo contrário!). Mas desconfio daquelas pessoas que precisam desesperadamente de ter a sua própria "causa", misturando o seu orgulho e necessidade de afirmação com uma determinada causa. Estas pessoas não procuram ser utéis da melhor forma possível, como conviria a quem apenas deseja praticar o Bem; simplesmente procuram afirmar-se. E quando assim é, trata-se de uma falsa caridade e de um simples acto de egoísmo. O verdadeiro benemérito age de forma o mais anónima possível, não se envaidecendo do bem que faz e não tendo em vista uma eventual recompensa.