O AVISO! Não resisti a transcrever este excelente texto do meu amigo Rui Afonso, a respeito da polémica em volta da demissão da direcção do "Semanário Académico":
"A idade, infelizmente, não perdoa. Todos vamos envelhecendo, a pouco e pouco, e os meus amigos são, inevitavelmente, uma excelente expressão disto. Um dos tiques da idade é o iniciar da aquisição de toda uma série de expressões, gestos, frases feitas. Uma delas é o típico "Eu bem avisei". É rude, mesquinho, pretencioso e, em boa verdade, desmotivador de diálogos.
Apetece-me citar (e posso fazê-lo, uma vez que este espaço apenas possui dois proprietários ou, numa expressão menos capitalista, moderadores) a Lei de Imprensa, cuja última revisão data de 13 de Janeiro de 1999. Em boa verdade, só me interessam, para o caso, não desfazendo, as alíneas 2 e 3 do 1º artigo: "2 - A liberdade de imprensa abrange o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações. 3 - O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura."
A Associação Académica da Universidade do Minho (de ora em diante, se necessário, o que não me parece, referida como AAUM) segue, num regime hierárquico perfeito, todas as directivas governamentais, mormente as que aos órgãos de comunicação social se dirigem. (O meu objectivo, não alcançado por má escolha das palavras, era que esta frase se revestisse de uma ironia sagaz.) A AAUM (afinal, usei a sigla!) era proprietária de uma publicação semanal que, habitualmente, trabalhava numa relação de tu pagas a impressão e eu não falo mal de ti (onde é que eu já ouvi isto?). De vez em quando, lá surgia um maluquito (apesar de não parecer, não se pretende que este vocábulo seja insultuoso, discriminatório, mas sim, à sua maneira, um tanto ou quanto carinhoso) ou outro que, almejando demonstrar coragem, se virava ao dono (sempre adorei esta expressão que, por acaso, não é minha). (Reparem, agora, no encadeamento de sucessivas e requintadas metáforas:) Ora o dono, sentindo-se ultrajado, pegava num jornal e, à boa moda portuguesa, ia espancando docemente (é possível?) até conseguir o amestramento do(s) infractor(es). Como este processo não funcionasse, pasmo total, a AAUM (terceira vez) decidiu, pura e simplesmente, dissolver a redacção do periódico e, também à boa moda portuguesa, assumiu aquele ar meio afectado que eu costumo intitular de nós por cá, tudo bem.
A idade, de facto, vai avançando e eu começo, já em novo, a ter alguns tiques desse amadurecimento. Também já adquiri toda uma série de expressões, gestos, frases feitas. E já que disso falamos, apetece-me dizer (e, mais uma vez, posso): Eu bem avisei!
PS - Perdoem-me o regionalismo do tema apresentado mas, de vez em quando, dá-me para a felonia"
"A idade, infelizmente, não perdoa. Todos vamos envelhecendo, a pouco e pouco, e os meus amigos são, inevitavelmente, uma excelente expressão disto. Um dos tiques da idade é o iniciar da aquisição de toda uma série de expressões, gestos, frases feitas. Uma delas é o típico "Eu bem avisei". É rude, mesquinho, pretencioso e, em boa verdade, desmotivador de diálogos.
Apetece-me citar (e posso fazê-lo, uma vez que este espaço apenas possui dois proprietários ou, numa expressão menos capitalista, moderadores) a Lei de Imprensa, cuja última revisão data de 13 de Janeiro de 1999. Em boa verdade, só me interessam, para o caso, não desfazendo, as alíneas 2 e 3 do 1º artigo: "2 - A liberdade de imprensa abrange o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações. 3 - O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura."
A Associação Académica da Universidade do Minho (de ora em diante, se necessário, o que não me parece, referida como AAUM) segue, num regime hierárquico perfeito, todas as directivas governamentais, mormente as que aos órgãos de comunicação social se dirigem. (O meu objectivo, não alcançado por má escolha das palavras, era que esta frase se revestisse de uma ironia sagaz.) A AAUM (afinal, usei a sigla!) era proprietária de uma publicação semanal que, habitualmente, trabalhava numa relação de tu pagas a impressão e eu não falo mal de ti (onde é que eu já ouvi isto?). De vez em quando, lá surgia um maluquito (apesar de não parecer, não se pretende que este vocábulo seja insultuoso, discriminatório, mas sim, à sua maneira, um tanto ou quanto carinhoso) ou outro que, almejando demonstrar coragem, se virava ao dono (sempre adorei esta expressão que, por acaso, não é minha). (Reparem, agora, no encadeamento de sucessivas e requintadas metáforas:) Ora o dono, sentindo-se ultrajado, pegava num jornal e, à boa moda portuguesa, ia espancando docemente (é possível?) até conseguir o amestramento do(s) infractor(es). Como este processo não funcionasse, pasmo total, a AAUM (terceira vez) decidiu, pura e simplesmente, dissolver a redacção do periódico e, também à boa moda portuguesa, assumiu aquele ar meio afectado que eu costumo intitular de nós por cá, tudo bem.
A idade, de facto, vai avançando e eu começo, já em novo, a ter alguns tiques desse amadurecimento. Também já adquiri toda uma série de expressões, gestos, frases feitas. E já que disso falamos, apetece-me dizer (e, mais uma vez, posso): Eu bem avisei!
PS - Perdoem-me o regionalismo do tema apresentado mas, de vez em quando, dá-me para a felonia"
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