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sexta-feira, março 26, 2004




A ORIGEM DO TERROR Na sua crónica no Público de hoje, Miguel Sousa Tavares (MST) escreve o seguinte:

"(...) Há, pois, outro caminho. E esse caminho não é ir ao Afeganistão convidar Bin Laden a sair da gruta e vir negociar a Genebra. Não é disso que se trata, quando se fala em negociações. Trata-se de desarmar a popularidade de Bin Laden no mundo muçulmano, de desarmar politicamente o terrorismo islâmico. Como? Dando passos concretos para ir ao encontro das legítimas reivindicações dos palestinianos. Fazer-lhes justiça e exigir depois a contrapartida. Israel é a chave do problema. Desde sempre. Se isso tivesse sido feito há dez, há vinte anos atrás, muitas tragédias teriam sido evitadas e não teríamos chegado a este ponto. Mas mais vale tentar agora do que nunca. Porque a alternativa é continuarmos reféns do terrorismo islâmico porque os Estados Unidos são reféns de Israel."

MST tem razão. O Ocidente tem que obrigar Israel a aceitar uma paz justa e equilibrada, que respeite os direitos dos palestianos. Mas não acredito que isso ponha termo aos desmandos assassinos de Bin Laden e seus sequazes; ainda que a questão palestiniana conhecesse um desfecho pacífico - leia-se, com o retorno às fronteiras de 1967, o reconhecimento pleno de um estado palestiniano independente, a soberania partilhada de Jerusalém, a justa divisão dos recursos hídricos, o fim dos colonatos, etc - o terrorismo fundamentalista não terminaria. E porquê? Porque Bin Laden combate a própria existência do Estado de Israel, e não apenas a ocupação de determinados territórios. Porque a Al Quaeda combate o Ocidente por tudo aquilo que ele significa: liberdade, tolerância e democracia. Princípios que ofuscam as mentes obscurantistas dos fanáticos, cegos pelo ódio irracional que lhes foi incutido pela deturpada fé que abraçaram.

Vejamos um exemplo de como o terrorismo, ao contrário da chamada "guerra de guerrilha", não precisa de apoio popular para sobreviver: de acordo com estatísticas recentes, apenas 3% dos bascos confessam alguma admiração pela ETA. Os restantes 97% da população, incluindo sectores autonomistas e até independentistas da sociedade basca, consideram-na um bando de assassinos. Ou seja, os terroristas da ETA não disfrutam de grande popularidade na sua própria terra natal. Mas isso não os impede de continuar a matar, à revelia do estado de direito e da sociedade democrática em que vivem.

O terror não precisa de aceitação popular, porque a vontade do povo não interessa ao terrorista. Quem recorre à violência para impôr a sua vontade, não demonstra respeito pela da maioria. E assim sendo, não precisa de "popularidade" para sobreviver politicamente, ou para fazer novos prosélitos.