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terça-feira, fevereiro 10, 2004




GRANDES PATIFES DA HISTÓRIA (II) Poucos imperadores romanos foram tão odiados como Maximino, o Trácio (Caius Iulius Verus Maximinus, chamado Thrax).

De origem extremamente humilde, Maximino nasceu nas montanhas da Trácia, por volta do ano 173. Os autores da época referem que nascera numa família de camponeses, e que fora pastor em criança. No entanto, a sua extraordinária robustez e resistência física (tinha mais de dois metros de altura!) cedo o habilitaram para a carreira das armas, que abraçou ainda adolescente.

O célebre historiador inglês Sir Edward Gibbon, no seu conhecido "Declínio e Queda do Império Romano", fez eco de uma velha tradição a respeito da entrada do jovem Maximino nas legiões. Escreveu ele que, aquando de uma visita de Septímio Severo à Trácia, Maximino teria corrido durante horas atrás do carro do imperador. Este, impressionado com a extraordinária resistência do jovem trácio, autorizou a sua admissão no exército. E anos mais tarde, quando Severo levou a cabo a sua guerra contra os Persas, Maximino era já um respeitado oficial a quem eram confiadas importantes responsabilidades.

Anos mais tarde, em 235, durante a campanha do jovem imperador Alexandre Severo na Germânia, Maximino era já general. Fora-lhe confiada a tarefa de recrutar e treinar os reforços para as legiões, e foi nessa vantajosa posição que o trácio decidiu derrubar o débil Alexandre. Inesperadamente, um grupo de oficiais revoltou-se contra o imperador, reclamando a púrpura imperial para Maximino. E este, que a princípio se mostrou relutante em aceitar a dignidade imperial (para manter as aparências?), depressa aderiu à revolta. Quanto ao jovem Alexandre, foi brutalmente assassinado pelos soldados na sua tenda, juntamente com a sua mãe. O choro e as súplicas do pobre coitado não comoveram os algozes.

Quando assumiu o poder, Maximino instaurou um regime de terror. Mandou executar a maioria dos conselheiros, amigos e parentes de Alexandre, confiscou terras e propriedades, tirou poderes ao Senado, etc. Tudo isto contribuiu para que fosse visto como um bárbaro feroz (e que, de facto, era!), inimigo da tradição e das leis romanas. Maximino foi o primeiro "imperador soldado", pois antes dele todos os césares eram oriundos da classe senatorial. Era, por isso, um inimigo do senado e das velhas famílias da aristocracia tradicional.

Em 238, porém, estalou uma revolta na província de África, liderada pelos patrícios Gordianos, alegados descendentes de Caio Graco e Marco António. Ou seja, da mais fina flor da aristocracia romana. A revolta de África foi rapidamente esmagada por um dos lugares-tenentes de Maximino, mas o Senado, que havia atribuído a púrpura aos Gordianos e que estava ciente do cruel castigo que o esperava, nomeou dois novos imperadores, Pupieno e Balbino.

Maximino depressa marchou para Itália, mas as forças do Senado travaram o seu avanço em Aquileia. E após o assédio infrutífero desta fortaleza, sem provisões e vendo que todo o Império aderira à revolta, os soldados acabaram por assassinar Maximino e o seu filho, reconhecendo a autoridade do Senado.

É verdade que Maximino cometeu sacrilégios e crueldades horrendas. Mas outros as cometeram antes. Sem dúvida que o facto de ser meio bárbaro e de origem extremamente humilde contribuiu muito para a imagem que os autores da época nos legaram.