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segunda-feira, janeiro 19, 2004




A BATALHA DE ALCÂNTARA permanece algo esquecida. Travada em 25 de Agosto de 1580, a batalha de Alcântara terminou com a vitória do Duque de Alba, general de Filipe II de Espanha, que facilmente desbaratou as milícias de Lisboa lideradas por D. António, Prior do Crato. Duzentos anos depois de Aljubarrota, eis que os espanhóis conseguiam finalmente conquistar Portugal.

Com o desaparecimento de D. Sebastião em terras da mourama, sucedeu-lhe no trono o seu tio avô, o Cardeal D. Henrique. Não tendo este descendência, abriu-se uma grave crise dinástica que pôs em perigo a independência nacional. Existiam sete pretendentes ao trono, cada um com o respectivo partido: D. Catarina de Bragança, filha de D. Manuel I; Filipe II de Espanha, neto de D. Manuel por via feminina; o duque de Sabóia, também neto do referido monarca por via materna; D. António, Prior do Crato, filho natural do infante D. Luís, igualmente filho de D. Manuel; e o duque de Parma, por ser neto, por sua mãe, do príncipe D. Duarte, filho também de D. Manuel. Além disso, existiam ainda dois outros pretendentes, cujos "direitos", no entanto, eram muito discutíveis. Eram eles Catarina de Medicis, rainha de França, dizendo-se descendente de D. Afonso III, e o Papa, que desejava suceder ao Cardeal Rei, por se considerar herdeiro natural dos cardeais da Igreja. Como seria de esperar, os três candidatos mais fortes eram Filipe II, D. António e D. Catarina. E deste triunvirato, o monarca castelhano era obviamente o mais rico e poderoso.

Fazendo uso dos bons ofícios do célebre Cristóvão de Moura - o demónio do meio dia - Filipe II conseguiu a adesão ao seu estandarte da maioria da alta nobreza (os mesmos que, sessenta anos depois, expulsariam os espanhóis!). D. António nada pôde contra isto, não obstante ter sido aclamado rei em Santarém e de contar com o apoio da maioria dos burgos portugueses. Em Alcântara, as suas mal preparadas milícias não estiveram à altura do mais poderoso exército do mundo de então.

O Cardeal Rei contribuiu muito para este triste estado de coisas, recusando reconhecer a legitimidade dinástica de D. António. Os ressentimentos de D. Henrique tinham origem no abandono da carreira eclesiástica por parte do seu sobrinho. E tais ressentimentos mesquinhos ditariam o triste fado de Portugal, entregue doravante ao domínio filipino.

D. António viveu ainda mais alguns anos, nunca desistindo da sua causa. Quanto a Filipe II, foi aclamado rei de Portugal, governando um império onde o sol nunca se punha.

Encontrei um relato da batalha de Alcântara, onde se pode ler:

"Passa-se a noite de 24 a 25 em cuidado no campo português, alarmado por falsos prenúncios de ataque, ordenados pelo duque. Ao romper do dia 25 está êste nos Moinhos da Estrangeira, seu local de comando, escolhido em frente do extremo flanco direito de D. António. Falha-lhe, porém, o ataque simultâneo, unitário que preparara. Próspero Colonna avança isolado e é repelio. Pede reforços ao duque... Êste, porém, não se perturba. E a manobra, implacável, prossegue sôbre a nossa direita donde, parece, tropas haviam sido, pouco antes, retiradas para refôrço da ponte, no extremo oposto. Enfraquecido o flanco defensivo português, organizado ao sul da ravina dos Sete Moinhos e desprovido também, cremos, de patrulhas avançadas que prevenissem da ameaça iminente, da infantaria de Sancho de Ávila - é êle julgamos, tomado fácilmente, por quási de surprêsa. E logo essa infantaria, em breve reforçada pela cavalaria de D. Fernando de Toledo, marcha em combate frente ao sul, correndo ao longo da nossa linha de batalha. Formada face a oeste, ccomo poderia esta, em dez ou vinte minutos, improvisar, por uma conversão de noventa graus ao norte, uma nova frente de combate ? Não resistem à prova nóssas milícias ; não resistiria ainda um exército de profissionais, mesmo mais numeroso."

E remata o cronista:

"Porém já iniciada a debandada, ainda no outro flanco tropas há que, pela coragem fria com que se mantêm, lembram Aljubarrota e anunciam Montes-Claros, vitórias gloriosíssimas que, quando outras não houvera, redimiriam tôdas as derrotas."