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terça-feira, janeiro 13, 2004




D. SEBASTIÃO E ALCÁCER QUIBIR existe ainda muita discussão em torno desta batalha que ditou a perda da nossa independência, e cujas consequências ainda estaremos a pagar. O que levou D. Sebastião a empreender tão trágica empresa? Seria louco, ingénuo ou simplesmente obcecado pelo ideal cristão de cavalaria? Talvez de tudo um pouco. No entanto, creio que ele não era muito diferente de outros conquistadores da História, com a diferença que, por um enorme azar, falhou nos seus intentos. Se D. Sebastião viu frustradas as suas ambições, a verdade é que a vitória esteve por um triz. Aliás, se em Alcácer Quibir o dia fosse ganho pelos portugueses - o que não aconteceu apenas por um mísero mal entendido - talvez D. Sebastião fosse agora visto como um dos maiores reis da nossa história. E isto independentemente dos erros estratégicos que o jovem rei tenha cometido no desenrolar da campanha, até ao dia da batalha.

O Prof. Queirós Veloso, no seu livro "D. Sebastião", descreveu a batalha, destacando-se aqui o mal entendido que constituiu o momento de viragem que levou à vitória muçulmana:

"Os aventureiros mais audazes conseguem apoderar-se de dois estandartes de Abde Almalique. Vêem-no descer do cavalo, convencidos de que um tiro de arcabuz tangerino o matara. Soltam-se lo gritos : "Vitória! Vitória! O maluco é morto!" Mas os elches e os azuagos, que formavam a retaguarda, acodem rápidamente a preencher o lugar dos fugitivos ; uma bala fere então, numa perna, o capitão Álvaro Pires de Távora. O sargento-mor, Pedro Lopes, manda-o conduzir para uma das liteiras, que havia na bagagem; e certamente, com receio de que a retirada se tornasse difícil, ordena que se detenham, dando a celebrada voz : "Ter! Ter!" O entusiasmo, que os impelia, esmorece. Hesitam, e quando decidem de retroceder, encontram-se cercados. O avanço que levavam aos seus companheiros, fora ocupado pelos inimigos? Os intrépidos aventureiros da vanguarda ficavam assim abandonados. o que se passou depois não foi um combate. Foi a inglória luta de três ou quatro centenas de bravos, vendendo cara a sua vida."

Perante a derrota iminente, os fidalgos pedem ao rei que retire:

"Atraidos pelo estandarte real, centenas de mouros de cavalo acometem-no de todos os lados. Fernando Mascarenhas pregunta-lhe : "E agora, Senhor, que havemos de fazer com tanta multidão ?" - "Fazer o que eu faço", responde o rei ; e, com o costumado ímpeto, rompe os inimigos, derrubando os mais próximos."

A morte do soberano português é narrada da seguinte forma:

"Depois de quatro horas de luta, terminara a batalha. Apenas D. Sebastião e um pequeno grupo de fidalgos seguiam combatendo. Nem a bandeira, nem o guião real, chamavam já a atenção dos mouros sobre o monarca ; e talvez a esta circunstância devesse não ter sido ainda morto. Mas era um fim previsto. Cristóvão de Távora suplica-lhe que se renda. D. João de Portugal acrescenta : "Que pode haver aqui que fazer, senão morrermos todos?" Respondeu D. Sebastião: "Morrer, sim, mas devagar". D. Nuno Mascarenhas chegou a arvorar um lenço, na ponta da lança ou da espada. D. Sebastião, porém, não se rendeu; e travando-se combate, foram mortos o conde de Vimioso, Cristóvão de Távora e alguns fronteiros de Tânger. Os restantes ficaram prisioneiros. Mais adiante, foi o soberano português cercado dum grupo de alarves que o mataram, com profundos golpes na cabeça e algumas arcabuzadas no tronco."