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sexta-feira, janeiro 09, 2004





A ANTIGUIDADE CLÁSSICA E OS E.U.A. (II) De facto, as semelhanças entre a América e a Roma Antiga vão para além da numismática. Em meu entender, podemos apontar várias semelhanças entre os dois "impérios":

- Império da lei: na Roma Antiga, as leis eram levadas muito a sério. Mesmo ditadores como Sila ou César agiam sempre dentro das leis (alterando-as a seu favor, se necessário...). Mesmo déspotas sanguinários como Calígula ou Domiciano revestiam os seus actos de todos os necessários aspectos legais (mesmo quando o primeiro atribuiu ornamentos consulares ao seu cavalo!). Isso acontecia porque desde a fundação de República que os cidadãos eram reconhecidos como iguais perante a Lei (ainda que os patrícios mantivessem certos privilégios). A Lei constituía a única defesa dos cidadãos contra a tirania e o abuso de poder, sendo importantíssima num sistema político que tudo fazia para evitar a concentração do poder nas mãos de uma só pessoa. Existe por isso uma grande semelhança com a realidade norte-americana, uma vez que o primado das leis é também um dos alicerces do sistema político americano. Aliás, é um ponto central da própria vida social. Já Tocqueville, viajante e pensador francês de meados do século XIX, referia que os "americanos vão para tribunal por tudo e por nada".

- Conquista da hegemonia: ao contrário do que vulgarmente se pensa, as primeiras conquistas romanas não se deveram a uma qualquer atitude "imperialista", como hoje se diz. Antes de mais, estava em causa a necessidade de sobreviver e/ou proteger os seus interesses comerciais. Vencida Cartago - velha rival que chegou a pôr em risco a sua própria existência - Roma tinha interesse em manter a estabilidade e o status quo em todo o Mediterrâneo; as guerras contra os Macedónios, os Selêucidas, o Ponto, os númidas e os egípcios foram motivadas por essa necessidade e não pela vontade de conquistar novos territórios. O sistema de dominação romana, nesta altura, era baseado numa rede de alianças com estados "amigos e aliados", ou seja, vassalos (Bitínia, Numídia, Judeia, Egipto, Síria, etc), com os quais o Senado e o Povo de Roma mantinham vantajosas relações comerciais. A ocupação militar e a anexação eram o último recurso, até porque a opinião pública romana era muito desfavorável a estas aventuras no exterior. A vocação "universal" de Roma só surgiu no século I a.C., com o advento do cesarismo e do Principado. Aliás, os adversários de César censuravam-lhe as campanhas na Gália, que consideravam uma "guerra ilegal", por ser ofensiva e nâo defensiva (mais uma vez, a importância das leis). Além disso, várias províncias foram legadas a Roma por testamento dos respectivos soberanos (Bitínia, Pérgamo, Cirenaica, etc). As semelhançaas com os Estados Unidos são notórias: por exemplo, a intervencão dos EUA em defesa das democracias europeias, na 2ª Guerra Mundial, e a supremacia que alcançou no fim da guerra, foi muito semelhante à campanha do cônsul Flamínio contra a Macedónia, em socorro das cidades gregas, por volta do ano 200 a.C.. Expulsos os macedónios, o cônsul decretou solenemente o "restabelecimento das liberdades gregas", mas foi obrigado a ocupar militarmente o país, devido aos conflitos que entretanto surgiram entre as cidades-estado helenas.

- Supremacia Militar: o exército romano era o mais poderoso do seu tempo, tal como o é hoje o americano. No entanto, creio que o génio militar romano estava muito acima do americano; os EUA vencem todas as guerras porque têm meios colossais ao seu dispôr. Roma, pelo contrário, combatia quase sempre em inferioridade de homens e de meios. Era a táctica dos comandantes, a moral e preparação dos soldados que lhe dava a vitória, e não apenas a logística. Aliás, um historiador militar (Ferryl) disse mesmo que o exército romano foi a mais eficaz máquina militar de sempre, só igualada pelo exército alemão das duas guerras mundiais.

- élite dirigente: tal como a Roma republicana, os EUA sempre foram dirigidos por uma oligarquia industrial, mercantil e latifundiária.

Há outras semelhanças que se poderiam referir. Talvez o Marcos possa ajudar!

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