respublica

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

A SEXUALIDADE DE CRISTO o Alex voltou a este assunto, escrevendo o seguinte:

"(...) a Virgindade era uma coisa vergonhosa entre os judeus, tendo dado como exemplo o episódio bíblico da filha de Jefthe (post nº 321) e o apócrifo da Virgem (post nº 333). Ora bem, se a virgindade era uma vergonha para as mulheres, para os homens ainda o era mais (lembro-me de aos 10 anos os meus colegas, todos, dizerem que não eram virgens). No tempo de Cristo, pior ainda. Assim sendo, como poderia Jesus Cristo ser “casto”? Não deveria ser virgem aos 15, nem aos 20 e muito menos aos 30!"

A respeito da filha de Jefté, dá que pensar o facto de ela ter ido "chorar a virgindade" antes de morrer, e não perdê-la. Se era assim uma vergonha tão grande para ela, não faria mais sentido que quisesse perder a virgindade antes de morrer? É verdade que para as raparigas judias a virgindade era um opóbrio, mas a tradição dizia que deveriam casar virgens.

O Alex escreveu ainda:

"Que horror! Jesus Cristo foi acusado de beber bem, comer bem, andar na companhia de mulheres e de pecadores, mas nunca, nunca, jamais foi acusado de ser casto! Jamais foi acusado de ser solteiro!"

Mas porque é que havia de ser "acusado"? E aqui és traído pelo teu próprio discurso, Alex. Ao dizeres que Ele era acusado de andar na "companhia de mulheres", admites que a sociedade da época censurava esse tipo de comportamentos. Ou seja, que os coetâneos de Jesus não viam com bons olhos que um homem andasse na companhia de mulheres "pecadoras".

"Jamais o acusaram de ser contra-natura, de não obedecer ao mandamento de “crescei e multiplicai-vos”, etc. Se Jesus Cristo não tivesse vida sexual, seria uma vergonha! Se Jesus Cristo não tivesse vida sexual, também não teria vida religiosa, porque seria um proscrito, um excluído socialmente. O que concluir daqui?"

Mas ele ainda tinha idade para vir a casar e cumprir o mandamento do "crescei e multiplicai-vos". Logo, porque é que haveria de ser excluído?

Parece-me que temos de ter em conta que a sociedade da época valorizava muito mais a virgindade das mulheres que dos homens. Aliás, concordo com o Alex quando ele diz que a virgindade era uma vergonha para um homem (um pouco à semelhança do que sucedia não há muito tempo na nossa própria sociedade). Todavia, temos que ter em conta o que o próprio Jesus disse sobre o assunto. E para isso cito o meu anterior post sobre este mesmo tema, uma vez que o Alex não chegou a responder:

"Não gosto deste tipo de discussão, citação contra citação. Todavia, neste caso não tenho alternativa. Vamos, então, por partes.

A respeito do matrimónio e da virgindade:

"Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério. 10Seus discípulos disseram-lhe: Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar! 11Respondeu ele: Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente 12Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus." (Mat. 19, 9 - 12)

A respeito da castidade:

"(...) Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. 28Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração. 29Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado na geena." (Mat. 5, 27-30)

Há ainda muitas outras passagens bíblicas que poderiam ser citadas. Por exemplo, Mat. 05, 32; Mat. 19, 18; Mc 10, 12; Mc 10, 19; Lc 12, 18; Lc 18, 20; Jo 8,4.

É óbvio que o cristianismo nascente foi influenciado por determinadas correntes filosóficas helenísticas. Mas parece-me evidente que o próprio Cristo foi bastante explícito na defesa da castidade e da indissolubilidade do matrimónio (salvo em caso de adultério). Concorde-se ou não."