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sexta-feira, junho 27, 2003

O Quinto dos Infernos


Não tenho por hábito assistir a telenovelas (a última que vi foi a "Tieta do Agreste", quando tinha 10 ou 11 anos de idade), mas recentemente dei umas espreitadelas na série brasileira "Quinto dos Infernos". Fi-lo por curiosidade. Embora sabendo que se trata de uma farsa sem quaisquer pretensões de divulgação da história luso-brasileira, não posso deixar de sentir alguma indignação pela forma como os portugueses são retratados na dita série.

No "Quinto dos Infernos", os portugueses são os covardes que abalaram para o Brasil mal os franceses se aproximaram da fronteira. O Príncipe Regente, futuro D. João VI, é apresentado como um gordo anafado, covarde, "corno", histérico e assustadiço; Carlota Joaquina é uma rainha devassa, imoral e vingativa. Quanto ao princípe D. Miguel, é um lingrinhas efeminado (não sei se homossexual) que não gosta de exercícios físicos. Resta o príncipe D. Pedro, o herói da independência brasileira. Esse possui todas "virtudes" e "qualidades" do brasileiro ideal: alegre, bondoso, engatatão, atraente, desportista, mulherengo, etc. Os produtores da série parecem esquecer que o "herói do Ipiranga" teve mais tarde de abdicar do trono imperial porque foi acusado de despotismo... mas isso é lá com eles.

Embora seja apenas uma série, creio que reflecte a imagem que os brasileiros ainda têm de Portugal. Noto que muitos brasileiros continuam a culpar Portugal pelas suas desgraças. O Brasil é atrasado? Culpa dos portugueses. Existem milhões de pobres no Brasil? Culpa dos portugueses. Existem latifundiários que concentram a terra nas suas mãos? Culpa dos portugueses. Além disso, acusam-nos de ter pilhado as riquezas do Brasil, esquecendo-se que "pilhámos" talvez um décimo do que lá deixamos, e que para povoarmos o Brasil tínhamos de ter algum motivo para o fazer.

F.A.