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quinta-feira, junho 26, 2003

Napoleão, armas quí­micas e os neo-conservatives


Robert Kagan, um dos chamados "neo-conservatives", continua a apoiar o presidente Bush na sua cruzada global contra o Mal... a quem quer compreender melhor as ideias destes republicanos que se consideram imbuí­dos da sagrada missão de construir um mundo à  semelhança dos States, aconselho a ler dois artigos de Kagan, publicados no Washington Post, "Napoleonic Fervor" (Post, 23 de Fevereiro) e "A plot to deceive" (Post, 8 de Junho).


No primeiro destes artigos Kagan critica os franceses por ainda estarem imbuídos do "espiríto de Napoleão", em que se age de acordo com o mote "victory or death, but always with glory". Deixando de parte estas considerações sobre o sentido de honra e glória dos gauleses, é curioso verificar que a "vocação messiânica" dos neo-conservatives é muito parecida com a ideologia napoleónica. Napoleão queria construir uma Europa unida, dirigida pela França. A ideia de grande Império era indissociável dos ideais da Revolução; daí­ que as Invasões Francesas tenham espalhado pela Europa os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Por isso os maiores inimigos de Napoleão eram os reis absolutistas por ele depostos e as classes privilegiadas do Ancien Regime (alto clero e nobreza). Em tudo isto, vejo muitas semelhanças com os ideais dos neo-conservatives... e também estes não se importam de destruir meio mundo para atingir os seus objectivos.


No segundo artigo, Kagan ataca a hipótese de existir uma conspiração para falsificação de provas da existência de armas químicas no Iraque. Para Kagan, mais importante que o facto de estas armas nunca terem sido encontradas, é o facto de os dirigentes americanos dizerem que elas existem. Parece o dogma da infalibilidade pontifí­cia; se George W. Bush diz que existem, é porque existem, pois ele é infalí­vel...