respublica

terça-feira, junho 22, 2004




VENTOS DA HISTÓRIA Com algum atraso, respondo às questões colocadas pelo meu amigo Ricardo Manuel, no sistema de comentários deste blog. Escreveu ele o seguinte:

"Duas perguntas, Filipe: 1. Estarias disposto a voluntarizar-te para participar num Dia D? A minha resposta é simples: no tempo da Normandia eu diria sim, hoje no Iraque diria não. Pois um soldado que combate sem apoio total do seu país na retaguarda, está a lutar por uma causa perdida. Não era o caso dos bravos de 6 de Junho de 1944. Mas é o caso do Iraque hoje. 2. "Vencemos, com estudo!" disse Salazar após um conflito devastador em que não morreram Portugueses - o que vale mais? A glória de libertar a Europa ou as vidas dos nossos avós, que na altura tinham a nossa idade?"

Caro amigo, estas não são perguntas fáceis. Não sei se me oferecia para participar num Dia D. Alistava-me para combater o nazismo, mas não sei se me voluntariava para participar num massacre como o desembarque de Omaha, por exemplo. Aliás, duvido muito que, naquele dia 6 de Junho de 1944, fosse grande o número de voluntários entre as forças de desembarque. Mas se tal dever me fosse imposto, com certeza que o cumpriria.

Em relação à segunda questão, creio que Salazar agiu da forma mais correcta e de acordo com os interesses do país. Colocar-se contra a Alemanha seria suicídio; Franco aproveitaria para nos invadir imediatamente. Por outro lado, alinhar com a Alemanha seria também uma catástrofe; os Aliados conquistar-nos-iam as colónias e certamente seríamos invadidos pelas potências em luta (como sucedeu com a Itália, por exemplo). Talvez o desembarque não se desse na Normandia, mas nas ocidentais praias lusitanas... imagina a destruição e caos que provocaria.

Salazar podia ser um ditador sem escrúpulos, mas não era propriamente burro. Portugal não tinha meios para entrar na guerra. Além disso, o resultado desta não dependeria em nada da nossa participação. Tal como na Primeira Grande Guerra, éramos irrelevantes, com a diferença de que, no conflito de 39/45, as nossas colónias não corriam riscos imediatos de anexação.

Todavia, e como cidadão, se vivesse naquela época - e tivesse meios e conhecimentos para isso - talvez optasse por me alistar nas forças Aliadas.

No que diz respeito ao Iraque, e recordando uma frase de Reagan que recentemente citaste no teu blog, "A maior imoralidade que um Estado pode cometer é enviar os seus jovens combater e morrer numa guerra que esse mesmo Estado não está disposto a vencer." Certamente que assim é. Mas estou convencido que não temos uma percepção correcta da situação no Iraque; existe muito exagero por parte dos media - em geral, hostis aos EUA - e de certos opinion makers que, sem conhecer a realidade do terreno, debitam constantemente opiniões apocalípticas que em nada contribuem para um melhor esclarecimento da opinião pública. Só o futuro dirá se conseguiremos construir um Iraque livre, pacífico e democrático. Eu sei de que lado estou: do que acredita que é possível construir um estado de direito no Iraque, e que o Islão não é incompatível com a Liberdade.