Regulamentar o jornalismo universitário
O jornalismo universitário constitui um primeiro contacto estudantes universitários com a prática jornalística. Esse primeiro contacto é particularmente importante para os estudantes de cursos de comunicação social e jornalismo.
Portugal conta com dezenas de jornais universitários, na sua maioria publicações mensais ou semestrais. Neste terreno, a Universidade do Minho é particularmente fértil; a nossa Academia pode orgulhar-se de contar com o único semanário universitário nacional, o "Académico", o quinzenário "UMdicas Jornal", e ainda o mensário "UMjornal". Há também dois projectos independentes, o "Universum" e o "Impacto", num total de cinco publicações periódicas. Além disso, subsistem numerosos jornais e revistas pertencentes a associações ou núcleos de curso, de periodicidade semestral ou mesmo anual, como a "RAE", a "Comum", o "JornalECO", o "Derectum", etc.
Perante esta proliferação de jornais universitários - e dada a importância que estes assumem enquanto "laboratórios de jornalismo" e complementos práticos de cursos por vezes demasiado teóricos - há quem pretenda regulamentar o sector, de forma a conferir-lhe melhores condições de trabalho e elevar a qualidade jornalística das publicações. Entre outras coisas, fala-se na criação de um cartão de jornalista universitário, que facilite o trabalho dos meios de comunicação social académicos e que os reconheça enquanto tal. Em meu entender, esta regulamentação só peca por atraso; há anos que devia ter sido feita.
No entanto, creio que tal regulamentação deve ser feita sem esquecer que a maioria das publicações universitárias são extremamente dependentes das instituições que as financiam (universidades, associações académicas, etc). Essa dependência deve-se a dois factores: em primeiro lugar, a maioria dos jornais universitários não têm departamentos comerciais encarregues da angariação de patrocínios e publicidade que lhes garantam a auto-subsistência. Privados da sua independência financeira, vêm-se obrigados a estender a mão à porta de quem detém o poder político/económico... e como diz o Prof. César das Neves, "não há almoços grátis"! Em segundo lugar, muitas publicações universitárias são institucionais, o que à partida significa que devem defender a imagem e as posições oficiais de quem as possui. Nesses casos, trata-se de orgãos oficiais de determinadas instituições, com uma linha editorial definida e condicionada pela sua própria natureza.
Tendo em conta estes factos, creio que a referida regulamentação deve procurar fazer o seguinte:
1. Apenas conceder o estatuto de jornalista universitário a quem provar conhecer e respeitar todos os princípios éticos e deontológicos do jornalismo. Caso contrário, os jornais universitários tornam-se escolas de maus hábitos.
2. Apenas reconhecer como orgãos de comunicação social os jornais cujas direcções não estejam "reféns" de poderes universitários ou associativos que possuam ou financiem o jornal. Ou seja, as publicações que possuam estruturas legais que lhes garantam independência editorial total perante quem os financia, de forma a que sejam realmente orgãos de informação e não de propaganda...
3. Criar estruturas a nível nacional que zelem pela qualidade, isenção, rigor e independência dos jornais universitários, condicionando por estes parâmetros o seu reconhecimento como orgãos de comunicação e a eventual atribuição de apoios estatais.
4. No caso das publicações institucionais, impôr a obrigatoriedade de estas se assumirem claramente como tal, mediante a publicação da sua linha editorial. Desta forma, impede-se que jornais institucionais se assumam como orgãos de informação geral, distinção esta que a própria lei já contempla, mas que tem sido "esquecida" por muitos, induzindo os leitores em erro...
Para terminar, gostava de lançar um repto a todos os "jornalistas" universitários: não "vendam" o vosso talento e a vossa dignidade. Lembrem-se que mais importante que publicar uns quantos artigos - e, para muitos, o que importa é publicar não importa onde, apenas para fazer currículo e criar "portfolio" - é exercer o jornalismo de forma verdadeiramente digna, isenta e independente. Não pactuem com a censura, pois o tempo dos "coronéis de lápis azul" já lá vai! Dignidade acima de tudo. Pois como dizia um velho amigo meu, "quanto mais um homem se baixa, mais se lhe vê o rabo..."
F.A.
O jornalismo universitário constitui um primeiro contacto estudantes universitários com a prática jornalística. Esse primeiro contacto é particularmente importante para os estudantes de cursos de comunicação social e jornalismo.
Portugal conta com dezenas de jornais universitários, na sua maioria publicações mensais ou semestrais. Neste terreno, a Universidade do Minho é particularmente fértil; a nossa Academia pode orgulhar-se de contar com o único semanário universitário nacional, o "Académico", o quinzenário "UMdicas Jornal", e ainda o mensário "UMjornal". Há também dois projectos independentes, o "Universum" e o "Impacto", num total de cinco publicações periódicas. Além disso, subsistem numerosos jornais e revistas pertencentes a associações ou núcleos de curso, de periodicidade semestral ou mesmo anual, como a "RAE", a "Comum", o "JornalECO", o "Derectum", etc.
Perante esta proliferação de jornais universitários - e dada a importância que estes assumem enquanto "laboratórios de jornalismo" e complementos práticos de cursos por vezes demasiado teóricos - há quem pretenda regulamentar o sector, de forma a conferir-lhe melhores condições de trabalho e elevar a qualidade jornalística das publicações. Entre outras coisas, fala-se na criação de um cartão de jornalista universitário, que facilite o trabalho dos meios de comunicação social académicos e que os reconheça enquanto tal. Em meu entender, esta regulamentação só peca por atraso; há anos que devia ter sido feita.
No entanto, creio que tal regulamentação deve ser feita sem esquecer que a maioria das publicações universitárias são extremamente dependentes das instituições que as financiam (universidades, associações académicas, etc). Essa dependência deve-se a dois factores: em primeiro lugar, a maioria dos jornais universitários não têm departamentos comerciais encarregues da angariação de patrocínios e publicidade que lhes garantam a auto-subsistência. Privados da sua independência financeira, vêm-se obrigados a estender a mão à porta de quem detém o poder político/económico... e como diz o Prof. César das Neves, "não há almoços grátis"! Em segundo lugar, muitas publicações universitárias são institucionais, o que à partida significa que devem defender a imagem e as posições oficiais de quem as possui. Nesses casos, trata-se de orgãos oficiais de determinadas instituições, com uma linha editorial definida e condicionada pela sua própria natureza.
Tendo em conta estes factos, creio que a referida regulamentação deve procurar fazer o seguinte:
1. Apenas conceder o estatuto de jornalista universitário a quem provar conhecer e respeitar todos os princípios éticos e deontológicos do jornalismo. Caso contrário, os jornais universitários tornam-se escolas de maus hábitos.
2. Apenas reconhecer como orgãos de comunicação social os jornais cujas direcções não estejam "reféns" de poderes universitários ou associativos que possuam ou financiem o jornal. Ou seja, as publicações que possuam estruturas legais que lhes garantam independência editorial total perante quem os financia, de forma a que sejam realmente orgãos de informação e não de propaganda...
3. Criar estruturas a nível nacional que zelem pela qualidade, isenção, rigor e independência dos jornais universitários, condicionando por estes parâmetros o seu reconhecimento como orgãos de comunicação e a eventual atribuição de apoios estatais.
4. No caso das publicações institucionais, impôr a obrigatoriedade de estas se assumirem claramente como tal, mediante a publicação da sua linha editorial. Desta forma, impede-se que jornais institucionais se assumam como orgãos de informação geral, distinção esta que a própria lei já contempla, mas que tem sido "esquecida" por muitos, induzindo os leitores em erro...
Para terminar, gostava de lançar um repto a todos os "jornalistas" universitários: não "vendam" o vosso talento e a vossa dignidade. Lembrem-se que mais importante que publicar uns quantos artigos - e, para muitos, o que importa é publicar não importa onde, apenas para fazer currículo e criar "portfolio" - é exercer o jornalismo de forma verdadeiramente digna, isenta e independente. Não pactuem com a censura, pois o tempo dos "coronéis de lápis azul" já lá vai! Dignidade acima de tudo. Pois como dizia um velho amigo meu, "quanto mais um homem se baixa, mais se lhe vê o rabo..."
F.A.
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