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terça-feira, novembro 11, 2003

ZBIGNIEW BRZEZINSKI, antigo conselheiro do presidente Jimmy Carter, assina uma crónica no "Público" de hoje, em que aborda a questão da credibilidade internacional dos Estados Unidos. Brzezinski recorda um episódio ocorrido durante a crise dos mísseis de Cuba, e estabelece uma interessante comparação com o momento presente:

"Há quarenta anos, um emissário importante foi enviado a França por um Presidente dos Estados Unidos em apuros. Foi durante a crise dos mísseis de Cuba, e o emissário era um determinado ex-secretário de Estado, Dean Acheson. A missão dele era dar informações ao Presidente francês, Charles de Gaulle, e pedir-lhe apoio no que podia tornar-se uma guerra nuclear envolvendo não apenas os Estados Unidos e a União Soviética mas toda a NATO e o Pacto de Varsóvia.

No fim do encontro, Acheson disse a de Gaulle: "Gostaria agora de mostrar-lhe as provas, as fotografias que temos de mísseis soviéticos equipados com armas nucleares". O Presidente francês respondeu: "Não desejo ver as fotografias. A palavra do Presidente dos Estados Unidos chega-me. Diga-lhe por favor que a França está ao lado da América".

Será que algum líder mundial reagiria hoje da mesma maneira a um emissário norte-americano enviado ao estrangeiro para dizer que o país X está armado com armas de destruição maciça que ameaçam os Estados Unidos? É improvável. A conduta recente da política externa americana, ao distorcer as ameaças que a América enfrenta, isolou os Estados Unidos e prejudicou a sua credibilidade. Causou danos na nossa capacidade para lidar com questões na Coreia do Norte, no Irão, na Rússia e na Cisjordânia. Se for preciso argumentar pela necessidade de acção contra uma ameaça de facto iminente, que nação nos levará a sério?"